terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

EducAção

Como a maioria dos estudantes de classe baixa, cursei meu ensino fundamental e médio em uma escola pública.

Tive inúmeros professores dos quais nem me lembro. Alguns deles, de maneira vergonhosa, infelizmente:

“Até as vacas são melhores do que vocês, porque vocês não servem nem para comer Capim, seus burros!”

Ouvimos isso de uma professora de matemática da 5ª Série.

Não preciso dizer que a partir daí, passei a desconsiderar qualquer argumento desta pessoa. Eu assistia às aulas em completa apatia. Tive irmãos mais velhos bons o suficiente em matemática, para me auxiliar no estudo em casa.

Em contrapartida, na mesma 5ª Série, tivemos a professora Lucrécia.

Ela foi a minha primeira comprovação (consciente, antes disso eu era muito criança para analisar) de que o professor pode sim, ser mágico, amigo, treinador e mestre.

Uma vez, organizamos uma feira sobre história e a convidamos para ser orientadora do nosso projeto. Por quê? Por que ela era o máximo.

Nem nada a ver com história ela tinha, porque lecionava inglês.

Acredito que o educador tenha papel fundamental na formação do indivíduo, porque ele é Canal direto para o que o estudante receberá como conhecimento. É chave de inspiração, de exemplo, de motivação.

Lembro da dificuldade que alguns professores (os mais engajados) tinham para nos trazer algum material relevante. Muitos deles pagavam por nossas cópias reprográficas.

Lembro que muitos também diziam que não fazia diferença se aprendêssemos ou não, porque eles receberiam seus salários “do mesmo jeito.” E deste discurso em particular, lembro de ter ouvido em todos os anos.

Lembro de colegas de sala levando armas para a escola, usando drogas no fundo da sala, xingando o professor, professor xingando aluno, professor cantando aluna, e tudo isso no ensino médio!

Apesar de tudo isso, acredito no futuro deste país. E acredito que ele possa ser melhorado através da educação.

Da educação consciente, que não é adestramento.

Da educação que educa através da sensibilidade, do respeito coletivo.

Há pouco tempo atrás, assisti ao filme “Escritores da Liberdade” e achei fantástico.

Ele trata sobre a dificuldade que é ensinar alguma coisa relevante para jovens já tão desmotivados e sem perspectiva de futuro. De como a educadora sofreu, e conseguiu a duras penas superar as barreiras de julgamento e separação de seus alunos para se deixar tocar por suas histórias, entender seus contextos e, a partir daí tentar entrar em seus Mundos. É uma história de dedicação REAL.

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Addendum:

Este post traz uma percepção um tanto quanto generalista (apesar de pessoal) do nosso sistema de ensino, e surgiu por conta de uma notícia que saiu hoje no IG:

http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/ensino+medio+afasta+aluno+da+escola/n1238085086879.html

“O ensino médio, como está, é algo inútil na vida da maioria dos jovens”,

afirma Elizabeth Balbachevsky.

Em sumo, a matéria trata sobre como o modelo de ensino é percebido por grande parte dos estudantes, como inútil.

Não é lá grande novidade, mas vale a pena olhar. Eu digo isso desde que comecei a estudar. Mais uma vez, mais do mesmo*.

PS: *Ainda em menção à minha saudosa 5ª Série, lembro de outra professora que fez a diferença para melhor. “Quase sem querer” do Álbum “Mais do Mesmo”, do Legião Urbana, foi uma das músicas escolhidas para nos ensinar Português.

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